sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Entrevista com Christiane Monteiro, dubladora da Lindinha/Miyako


Após meses de troca de recados e depoimentos pelo orkut, está publicada nos meus três sites favoritos (Dublanet, Anime, Mangá e TV e PPGZ Brasil) uma entrevista muito legal com a dubladora Christiane Monteiro, que tem sua voz principalmente reconhecida por ter feito a Lindinha, de As Meninas Superpoderosas. Confiram a matéria e prestigiem essa que é a dona de uma das mais importantes vozes da dublagem brasileira!

fiD:
Como você descobriu seu talento para dublagem?

CM: Sempre tive voz aguda; pra alguma coisa ela havia de servir, além de irritar meus irmãos e colegas de aula! :D
Eu já fazia teatro amador havia um tempo, quando surgiu um curso de dublagem perto da minha casa. Fiquei interessada e me inscrevi. Foi o máximo! Me descobrir dubladora foi uma das melhores coisas que já me aconteceram! Ter dado certo na dublagem também, é claro!
Meu primeiro trabalho foi em 94, quando eu tinha 26 anos (foi antes do meu aniversário), mas eu só engrenei mesmo em 97. Foi um longo e árduo percurso, mas valeu a pena!

fiD: Qual foi seu primeiro trabalho?
CM: Meu 1º trabalho foi um besourinho (Baby 3), no longa de animação "A Polegarzinha", dublado na Delart e dirigido pelo Pádua.

fiD: Quando você começou a trabalhar com dublagem, houve algum desconforto ou "estranhamento" por sua parte e/ou por parte dos que trabalhavam com você?
CM: Com certeza houve muito desconforto da minha parte, porque no começo todo mundo tem dificuldade. Eu sou muito tímida e falo baixo, e até eu conseguir falar num tom que o microfone captasse bem, apanhei um bocado! Sem contar com os personagens mais extravagantes!
Ainda hoje, dependendo do dia, tenho dificuldade de fazer cenas de raiva ou de muita agitação, porque, em geral, sou uma pessoa calma. Volta e meia o diretor fala: "Chris, ela tá mais que você!", aí eu tenho que refazer a cena com mais raiva ou agitação...

fiD: Qual é seu trabalho preferido?
CM: Não tenho 1 trabalho preferido, tenho vários: a DW (de Arthur), a Queridinha (de 101 Dálmatas), a Lindinha (de As Meninas Superpoderosas), a Jenny (de Uma Robô Adolescente), a Mónica (da novela Camila), etc.

fiD: Você se identifica com quais personagens seus?
CM: Bem, eu me identifico com a Lindinha, que é bobinha, é a mais pacífica de todas, adora a natureza, não gosta de brigas entre as irmãs, mas que, quando é preciso, sabe ser "osso-duro".
Mas mesmo quando eu não me identifico com a personagem ou até quando é a vilã (como a Mónica, da novela Camila) eu sempre arrumo um jeito de "explicar" o comportamento delas.

fiD: Nota: a respeito da Lindinha, o "osso-duro" é uma referência (ou não) ao episódio "Lindinha Perversa", temporada 1, episódio 9. A fala de Christiane dublando essa cena está no Arquivo de Vozes do Dublanet [link].

fiD: Você tem uma filha. Ela serve de inspiração para você?
CM: Bem, é bem verdade que ela é uma boa inspiração, mas acho que é mesmo o meu lado infantil que me dá material para o meu trabalho.

fiD: Você já cantou para quais dublagens?
CM: Já cantei em um episódio das Meninas. Cantei as canções da Moranguinho, umas duas vezes como a Número 3, da Turma do Bairro, e algumas outras coisas. Eu adoro dublar canções!

fiD: Qual o seu dublador preferido?
CM: Eu não tenho apenas um dublador preferido, tenho vários, tanto pela voz, como pelo excelente trabalho e também pela simpatia!
Eu precisaria de muitas páginas pra escrever o nome de todos, mas aí vão alguns que eu amo de paixão:
  • Miguel Rosemberg (Zé Colméia)
  • Márcio Seixas (The Tick)
  • Carlos Marques (Dartagnan, um desenho da década de 80)
  • Orlando Drumond (Scooby-Doo)
  • Júlio Chaves (Mel Gibson)
  • Juraciara Diacovo (Penélope Charmosa)
  • Selma Lopes (Woopie Goldberg)
  • Miriam Ficher (Nicole Kidman)
  • Sérgio Stern (Lazlo)
Ah, tem muitos outros! Eu realmente admiro muito o trabalho dos meus colegas!

fiD: O que você acha de gravar com outro(s) dubladore(s) ao mesmo tempo?
CM: Dá mais confusão, pois é mais que um errando, mas com certeza é mais divertido!

fiD: Qual tipo de cena, em geral, você acha mais complicado de gravar?
CM: Eu acho mais difícil dublar cenas corriqueiras, sem emoção nas falas, porque sempre acho que fica sem graça...tem gente que dubla muito bem cenas assim, mas não é o meu caso...

fiD: Qual foi a produção mais difícil de fazer?
CM: Novela mexicana costuma ser difícil. Uma que eu suei muito foi Feridas de Amor, porque a atriz que eu dublava (fiz outras novelas com ela) abria uma boca ENOOORME e articulava MUUUITO todas as palavras, o que tornava quase impossível uma dublagem satisfatória, já que nós brasileiros não abrimos tanto a boca nem articulamos tanto.

fiD: Qual sua opinião sobre famosos dublando?
CM: Acho que se a pessoa famosa for um ator (ou atriz), que "acerte" o jeito da dublagem, tudo bem. Só acho que o trabalho fica pobre quando a pessoa não sabe interpretar. Quem perde é o público.

fiD: Você acha que o fato de a mídia não abrir muito espaço para a dublagem causa certa “desvalorização” desse ramo?
CM: Eu acho que o que desvaloriza a dublagem, entre outras coisas, é o preconceito que muita gente, intelectual, ou metido a intelectual, tem.
São pouquíssimas as pessoas que têm condição de entender todos os diálogos de um filme estrangeiro. Acho que os canais de TV deveriam disponibilizar a tecla SAP com legendas para toda a sua programação para atender a esse público. A maioria da população prefere assistir aos programas e filmes dublados. Tanto é assim que o canal Telecine, que no começo se gabava de só exibir filmes com som original, teve que se render às exigências dos espectadores e oferecer um canal com programação totalmente dublada.

fiD: Qual a sua opinião sobre quem diz "odiar" dublagem?
CM: Que essa pessoa esqueceu que já foi criança e que tem ou poderá vir a ter filhos e sobrinhos. Esqueceu também que é direito do cidadão assistir a um filme na sua própria língua sem precisar "lê-lo". Eu tenho um amigo que diz odiar filme dublado, com exceção de desenhos. Eu não falo nada, porque não gosto de discussão, mas quem dubla os desenhos são os mesmos que dublam qualquer outra coisa. Será que os dubladores só são bons dublando desenho? Além do mais, tem gente que odeia médico, dentista, vendedor, advogado, etc... será que todas essas profissões deveriam, então, ser banidas da face da Terra?

fiD: Qual sua opinião sobre o "boom" de novos dubladores?
CM: Acho que esse "boom" é conseqüência do "boom" de cursos de dublagem. Eu acho legal ter sempre vozes e talentos novos, mas o mercado REALMENTE não tem como absorver tanta gente...

fiD: Conte um pouco da Christiane fora dos estúdios de dublagem.
CM: Tenho uma vida simples, porém valiosa. Tenho uma filha que eu amo muito, tenho uma família unida que é pau pra toda obra, tenho amigos superlegais, tenho um trabalho que eu adoro e que me sustenta e ainda me dá tempo pra criar e educar minha filha, tenho saúde e amo a vida! Ou seja, tenho tudo!
E pra completar, ainda tenho pessoas que admiram meu trabalho e que são carinhosos comigo! O que mais eu posso querer, né?!

fiD: Como foi a primeira vez que conheceu algo sobre dublagem?
CM: Que eu me lembre (e isso denuncia a minha idade!), a primeira vez que vi um dublador foi, se não me engano, no programa do Chacrinha, há uns 500 anos! Eram três dubladoras. Uma delas dublava a Olívia Palito e o público tinha que adivinhar quem era. Me lembro que eu gostei muito, achei muito legal, mas naquela época eu era criança e não pensava em dublar.

fiD: Se você não fosse dubladora, qual profissão teria?
CM: Eu amo dublar! Se pudesse, faria isso até morrer mas, infelizmente, não sei como ficará o mercado de dublagem daqui a alguns anos...
Pois justamente quando eu procurava uma outra profissão, terminei minha faculdade (Letras) e descobri que também quero ser professora. Fiz estágios por causa da Licenciatura, e adorei! Agora, estou focando meus esforços pra essa direção. Mas não quero parar de dublar NUNCA, NUNQUINHA!!! Dá pra conciliar as duas coisas, ainda bem!!! /)

fiD: Já te reconheceram sem saberem que você é dubladora?
CM: Sim. É raro me reconhecerem por causa da voz, mas aconteceu só umas duas ou três vezes. Nunca, porém, me reconheceram só de rosto como dubladora. Já me reconheceram (pouquíssimas pessoas) quando eu apareci no Fantástico [veja aqui] , mas foram só duas pessoas, eu acho.

fiD: É fato que a internet aproximou muito os dubladores de eventuais fãs. Nisso, em que a internet ajuda?
CM: A internet nos faz saber que tem pessoas que valorizam o nosso trabalho, e isso é muuuito gratificante!!! É um enorme incentivo!

fiD: Dubladores podem ter diferentes níveis de privação. Quando algum fã torna-se invasivo para você?
CM: Acho que um fã se torna invasivo quando não percebe que nós não estamos à sua inteira disposição.
Nós temos nossos problemas, nossas responsabilidades, nossas ocupações, e tem fãs que acham que estamos de má vontade se não atendemos a um pedido seu que exige uma certa dedicação de tempo (que muitas vezes não temos mesmo). Isso é realmente muito desconfortável. :(

fiD: Qual foi o contato mais legal ou satisfatório que você já teve com fãs?
CM: Os fãs são sempre bastante gentis, e uma vez marcou-se um encontro, aqui no Rio, comigo e com a Flávia Saddy, porque dublávamos Rebelde [Flávia dublou Anahí]. Esse encontro foi o contato mais legal, todo mundo foi muito gentil, carinhoso, sem ser invasivo. Foi MUUUITO legal.

fiD: Como foi dublar as seguintes personagens: Pilar, Queridinha, Jenny, Moranguinho e Lindinha.
CM:
  • A Pilar é a única humana do grupo, o que é uma raridade pra mim porque quase não dublo personagens humanos importantes (praticamente só dublo em novelas mexicanas, como é o caso da Pilar). Foi bem legal fazer a Pilar, é legal dublar gente de verdade (hehehe);
  • A Queridinha foi minha primeira personagem importante e eu simplesmente adorei dublá-la! Ela era muito divertida!
  • A Lindinha e a Jenny são muito legais, eu sempre me diverti dublando elas, eu adoro as duas!
  • A Moranguinho, embora não seja uma personagem engraçada, é muito bonitinha e me deu a oportunidade de cantar bastante (o que eu adoro!), por isso, fiquei triste por não dublá-la mais. Mas assim é a vida...

fiD: Como foi fazer a Virginia (uma das poucas vilãs que você dublou)?
CM: Eu adoro fazer a Virginia, ela é muito divertida! Eu implico um bocado com a Luisa [Palomanes], que faz a Lola.
Já fiz outras vilãs, em novelas mexicanas: a Mónica (Camila) e a Miranda (Por Tu Amor). Em Amigas e Rivais a Ofelia começou malvada, mas depois ficou boazinha...

fiD: Se você pudesse escolher uma personagem pra dublar qual você escolheria?
CM: Eu gostaria muito de dublar a Branca de Neve, da Disney! Também queria muito ter dublado a Hermione, porque eu adoro os livros do Harry Potter, mas é a minha "irmã" (a Luisa) que dubla, então eu não fico triste.

fiD: Como foi fazer um episódio quase que inteiro de Uma Robô Adolescente falando em japonês?
CM: Eu não saco nadinha do japonês, mas não tive tempo de pedir ajuda a ninguém. Só Deus sabe se o que eu falei era japonês! Eu prestava atenção na atriz original e acompanhava o texto com pronúncia figurada...foi um sufoco!
Esse negócio de japonês já me rendeu uma situação engraçada. Sempre dublamos Hamtaro (eu dublava a Bijou) em japonês, e sempre foi um sufoco, mas um dia, não sei porque, estava tudo fácil, eu conseguia acertar quase de primeira, sem problemas... Lá pelas tantas é que eu me dei conta de que o original estava em inglês!
Mas eu sou distraída, mesmo...
fiD: Não se preocupe; você falou em japonês mesmo ^^

fiD: Você tem está fazendo alguns trabalhos atualmente? Quais?
CM: Que eu me lembre, não tenho feito nada de muito importante, ultimamente... mas é assim mesmo.

fiD: Sabe-se da chegada de As Meninas Superpoderosas: Geração Z, cuja futura e incerta versão brasileira é uma das poucas que são discutidas previamente, principalmente na internet, por ser um remake de um clássico do Cartoon Network. Essa versão tem um fator importantíssimo que é a manutenção de, pelo menos, a cidade do Rio para a dublagem e, lógica e principalmente, dos dubladores originais. Como é sua expectativa de ser ou não ser chamada para reviver a Lindinha?
CM: Eu quero muito continuar dublando a Lindinha (mesmo numa nova versão), porque adoro ela! Nós gravamos a parte 1 do episódio 1 da versão Z, mas ainda não está decidido se dublaremos a série.

fiD: Dê conselhos para quem quer se tornar dublador.
CM: Bom, primeiro consiga seu registro de ator, depois é batalhar por um lugar ao sol. O mercado não tem condição de absorver todo mundo, mas quem realmente quer deve perseverar!

fiD: Deixe seu recado para o pessoal.
CM: Agradeço de coração o carinho de todos vocês, fãs de dublagem! Vocês são especiais para nós!
Um enorme beijo para todos!

fiD: Quero agradecer, e muito pela atenção que você me deu e pela paciência que teve para que essa entrevista fosse possível (e pedir desculpas pelo monte de recados ^^'). Sei que muitos dubladores não teriam condições ou mesmo vontade de me atender. Você é mesmo um exemplo de consideração e simpatia.
CM: Eu é que agradeço! Gostaria de dizer que fãs como você são muito legais. Você demonstra interesse e carinho, faz várias perguntas, mas espera eu respondê-las no meu tempo, sem cobranças ou "deselegâncias". Isso é muito legal!
Obrigada pelo respeito que você demonstra por nós!



Um comentário:

  1. Cris, que bom ver seu rostinho por aqui.
    Entre em contato, ok?
    Jeanine (UERJ/Italiano)

    jserenado@hotmail.com

    Bjos

    ResponderExcluir

Por favor, evitem deixar mensagens fora do tema da postagem, exceto em caso de parcerias.
Evitem também enviar várias mensagens. Releia seu texto, pense no que for preciso escrever e poste de preferência num só comentário. O PPGZ Brasil agradece a compreensão.

Nota

Demashita! Powerpuff Girls Z, Powerpuff Girls Z e As Meninas Superpoderosas: Geração Z são marcas registradas, sendo seus direitos reservados a Cartoon Network, Toei Animation, Aniplex e TV Tokyo. Seu uso neste blog é meramente informativo, promocional e crítico, sem nenhum fim lucrativo.
Todos os outros títulos e imagens de séries, filmes e afins são marcas registradas e/ou copyrights dos seus respectivos proprietários
Os vídeos são de uso livre proporcionado pelos sites Dailymotion, MySpaceTV, YouTube e similares, sendo sua responsabilidade de seus usuários que os disponibilizam.